A obtenção de uma Licença de Instalação de uma usina depende de uma série de estudos, como por exemplo, geográficos, de impactos ambientais e arqueológicos. Na Usina RS-155 não foi diferente e todos as análises necessárias foram realizadas. Entre elas, a verificação arqueológica da área onde a obra está sendo construída, que visa encontrar vestígios da vida de nossos ancestrais e preservar sua herança material, conforme Lei Federal 3924, de 1961, que determinada o estudo arqueológico em qualquer empreendimento, de grande, médio ou pequeno porte.
Este estudo foi realizado por uma equipe de arqueólogos da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) que encontraram dois sítios arqueológicos, comprovando a presença de pessoas na região há milhares de anos e que farão a identificação e preservação destes vestígios.
O estudo iniciou no ano de 2009, coordenado pelo professor de história e doutor em arqueologia Sérgio Klamt, assessorado por uma equipe técnica, e encontrou vestígios de acampamentos de grupos pré-históricos, ou seja, de antes da chegada dos imigrantes europeus a Ijuí e região. Segundo o professor, trata-se de uma população indígena que se identifica à chamada Tradição Humaitá, com estimativa de terem vivido aqui há mais de seis mil anos. “Sabe-se que esse grupo chegou ao Estado há aproximadamente seis mil anos, porém, não temos como precisar quando eles estiveram aqui, mas os vestígios pertencem a grupos desse período”, comenta Klamt. Ele acrescenta que para ser possível precisar a data através da técnica de uso do carbono 14 seria necessário se encontrar restos de carvão fossilizados, o que não foi possível nestes sítios que se encontram em área de cultivo. O que é certo é que o grupo tinha como modo de vida a caça e a coleta de alimentos, sendo nômade, utilizando-se de equipamentos bastante rústicos, como comprovam os resquícios encontrados.
A partir do momento em que a equipe de arqueólogos encontra os vestígios, estes são retirados do local, limpos, fotografados e catalogados, sendo armazenados na universidade, podendo a amostra ser destinada à exposição em museus locais ou mesmo em área específica para exposição do próprio empreendimento, neste caso a Ceriluz. O grupo de arqueólogos ministrou palestras para os estudantes das escolas de Santana e Chorão, vizinhas à obra. Faz parte da proposta da cooperativa promover o desenvolvimento histórico da região através destas iniciativas. O professor lembra que é importante estudarmos o passado para nos prepararmos para o futuro. “Muitos aspectos do passado podem servir de referência para a tomada de decisões no presente ou no futuro.
A maioria dos sítios arqueológicos estão localizados em margens de rios e atualmente, áreas destinadas à lavoura. Por isso acabam se perdendo. Segundo o professor isso acontece primeiro porque o solo é revirado e as pedras recolhidas e também porque, ao achar, o agricultor esconde a descoberta por medo que não possa mais utilizar essa área com fins produtivos. “O medo de não poder usar mais as lavouras é comum, mas isso não acontece. Eu desconheço casos que a presença de algum sítio arqueológico tenha prejudicado algum agricultor”, garante Klamt. O sítio é removido do local somente após a liberação da área pelo produtor, pela retirada das culturas já maduras, podendo ser reaproveitada posteriormente.