“A gente não deve ver as fontes de energia como competidoras, mas elas sempre são complementares e num sistema elétrico você deve buscar diversificar todas as fontes e aproveitar as vantagens e desvantagens de cada alternativa”. A afirmação foi feita por Leonam dos Santos Guimarães, diretor de planejamento, gestão e meio ambiente da Eletronuclear, empresa subsidiária da Eletrobrás que gerencia as duas usinas nucleares brasileiras: Angra I e Angra II. A frase foi dita hoje (04.04) durante visita à Pequena Central Hidrelétrica RS-155, de propriedade da Ceriluz, localizada no Rio Ijuí.
O engenheiro naval de formação destaca que cada fonte tem um papel fundamental no Sistema Interligado Nacional (SIN), especificamente a energia nuclear como uma energia firme e as PCHs com promotoras do desenvolvimento regional. “Eu acho que esse trabalho regional, como o feito pela cooperativa, que trabalha nas duas pontas – geração e distribuição – é fundamental para a gente imaginar o crescimento do sistema elétrico brasileiro [...] em especial quando a gente pensa em sustentabilidade, porque basicamente se está trabalhando com energia renovável, que é a hidroenergia”, avalia Guimarães.
As duas usinas termonucleares atualmente produzem aproximadamente 2,5% de toda a energia consumida no País. Enquanto Angra I tem uma capacidade instalada de 650 Megawatts (MW), Angra II tem uma potência de 1.305 MW. Em termos comparativos, a PCH RS-155 tem uma potência instalada de 5,9 MW, ou seja, uma pequena fração do que representam as duas usinas nucleares. A Eletronuclear trabalha atualmente na implantação de uma nova planta geradora, a Angra III, que terá capacidade de 1.405 MW. As três encontram-se localizadas em um terreno de dois quilômetros quadrados na praia de Itaó, em Angra dos Reis (RJ).
Segurança e Meio Ambiente – A discussão sobre o uso da energia nuclear ganhou força a partir do acidente ocorrido em março de 2011, na Usina de Fukoshima, no Japão, com alguns países questionando sua necessidade e outros desligando algumas unidades. Guimarães minimiza os riscos, lembrando que o acidente naquele país foi causado por um fenômeno natural, no caso, um terremoto seguido de tsunami, que causou a maioria das mortes. “O acidente de Fukoshima [...] realmente causou um impacto na indústria nuclear como um todo, mas foi mais uma reação de natureza emocional e política, porque hoje, passados cinco anos do acidente, se tem 67 usinas nucleares em construção no mundo, das quais uma é Angra III. Eu acho que o nuclear tem espaço na matriz energética do futuro, em especial nos países em desenvolvimento, como China, Índia e também no Brasil”. Quanto aos rejeitos nucleares gerados nas usinas ele afirma que existe um medo exagerado. “A primeira usina nuclear começou a gerar em 1958, quase sessenta anos depois, nunca houve um acidente que prejudicasse o público ou o meio ambiente que envolvesse os resíduos nucleares. Isso porque, como eles são gerados numa quantidade muito pequena, permite ter medidas de proteção e segurança que garantam pleno isolamento desses rejeitos que são perigosos” justifica o diretor, acrescentando que esse armazenamento segue normas internacionais.
O diretor da Eletronuclear Leonam dos Santos Guimarães esteve em Ijuí para participar da Semana Acadêmica do curso de Administração da Unijuí, onde realizou a palestra Tendências e Desafios Estratégicos para o ano 2050, no dia 04 de abril. A entrevista completa com o diretor poderá ser ouvida no Informativo Ceriluz dessa semana.
Como funciona uma usina nuclear?
A fissão dos átomos de urânio dentro das varetas do elemento combustível aquece a água que passa pelo reator a uma temperatura de 320 graus Celsius. Para que não entre em ebulição – o que ocorreria normalmente aos 100 graus Celsius -, esta água é mantida sob uma pressão 157 vezes maior que a pressão atmosférica.
O gerador de vapor realiza uma troca de calor entre as águas deste primeiro circuito e a do circuito secundário, que são independentes entre si. Com essa troca de calor, a água do circuito secundário se transforma em vapor e movimenta a turbina - a uma velocidade de 1.800 rpm - que, por sua vez, aciona o gerador elétrico.
Esse vapor, depois de mover a turbina, passa por um condensador, onde é refrigerado pela água do mar, trazida por um terceiro circuito independente. A existência desses três circuitos impede o contato da água que passa pelo reator com as demais.
Uma usina nuclear oferece elevado grau de proteção, pois funciona com sistemas de segurança redundantes e independentes (quando somente um é necessário).
Fonte: site Eletronuclear